Este blog foi o meio que achei para poder aproveitar as fotos que eu tiro pelo país e compartilhar um pouco de uma das minhas grandes paixões que é o mundo animal. Espero que seja útil e que aproveitem!
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Boto-vermelho
Boto-vermelho (Inia geoffrensis)
Classe: mammalia
Ordem: cetartiodactyla
Família: iniidae
O boto-vermelho como é conhecido na Amazônia é um animal um tanto quanto peculiar e você, leitor, vai entender o porque ao longo dessa postagem. Praticamente tudo que vou compartilhar aqui no blog eu devo à Vera da Silva, pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e às minhas amigas Glória Hidalga, que no momento está fazendo mestrado na Espanha e à Deise Nishimura, ambas ex-estagiárias do programa "Boto-vermelho" da parceria Inpa-Idsm.
Inia geoffrensis é originário do Oceano Pacífico e entrou no ambiente que atualmente é a Amazônia a cerca de 20 milhões de anos, quando o rio Amazonas corria para oeste e os Andes ainda não tinham soerguido completamente.
Hoje em dia é uma espécie que sofre muita pressão antrópica, sendo alvo de pescadores predatórios que caçam esses animais para transformá-los em iscas de um peixe conhecido como piracatinga (Calophysus macropterus), que depois de pescado é exportado para países como a Colômbia e até para outras regiões do Brasil. Curiosamente não é muito apreciado pela população local. Desse modo as populações da espécie vêm declinando, mas a IUCN atualmente alega não possuir dados suficientes para definir em qual categoria que o boto-vermelho se encaixa, muito embora a última classificação tenha sido vulnerável.
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá há o projeto da professora Vera da Silva e do professor Tony Martim (Inglaterra) que estuda, entre outras coisas, a quantidade de animais que habitam e visitam a área. Parece que nos últimos 15 anos, a quantidade de botos diminuiu cerca de metade do que havia. Em um artigo de 2004 Martim e da Silva estimaram aproximadamente 13.000 botos na área de Mamirauá (11-18% das áreas de várzea da Amazônia brasileira).
O boto-vermelho ocorre no complexo Amazonas-Orinoco, incluindo o rio Negro, englobando o Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela. É uma espécie típica de ambientes de várzea e igapó.
Possui algumas características bem particulares. A começar pelo melão bem desenvolvido, aquela protuberância na cabeça, um órgão sensorial, que o ajuda a perceber o ambiente que está em sua volta, como obstáculos, outros animais e presas. É como um sonar e o nome que se dá a esse fenômeno é ecolocalização. Possui olhos, mas são muito pequenos.
Outra característica marcante é o tamanho da boca, que é alongada e o ajuda a capturar peixes, suas presas principais, em emaranahados de raízes e locais de difícil acesso para quem tem "bico" pequeno. Além disso, possui dois tipos de dentes, os tradicionais cônicos e alguns semelhantes a molares, possibilitanto a ele capturar uma maior variedade de peixes.
É fácil de observar que o boto-vermelho não possui uma barbatana dorsal proeminente, ao contrário de outros golfinhos. Entretanto, suas nadadeiras são grandes e permitem ao animal se movimentar para frente e para trás, permitindo que ele entre na floresta alagada, em meio a árvores e outras plantas e consiga "dar ré" para fora. Outra coisa que o ajuda nessa tarefa é a não-fusão das vértebras do pescoço, dando mais maleabilidade ao corpo.
Botos dão à luz a um único filhote que fica com a mãe por cerca de 2 anos. Pode acontecer de a mãe estar com um filhotão, que já vai ficar independente, e ter um outro filhote, mas não é o caso mais comum. Os machos brigam ferozmente entre si pelas fêmeas, numa disputa que produz muitas cicatrizes e arranhões, deixando-os com a aparência roseada. Quando nascem são cinzas e vão perdendo pigmentação ao longo do tempo e umas das coisas que ajudam nessa perda, são exatamente as brigas. Normalmente machos adultos são mais rosas do que os outros indivíduos.
Mas algo novo e extraordinário que a Vera, Tony, Edinho (um morador da comunidade Vila Alencar e incrível conhecedor desses animais) e os estagiários descobriram foi que os machos, além de brigões, podem ser também gentlemans.
Eles pegam com a boca pedaços de pedra, porções de vegetação flutuante e até animais e mostram às fêmeas esses "presentes", num ritual de agrado a elas. É como nós humanos, que damos flores à namorada.
A relação mais estreita que há entre os indivíduos é entre mãe e filhote. Não vivem em grupos e quando observamos muitos animais juntos pode ser que seja por disputa pelas fêmeas ou um local com muito alimento e os indivíduos estão lá apenas por interesses próprios.
Podem viver cerca de 50 anos e a maturidade sexual começa pelos 5-6 anos nas fêmeas e 7-8 anos nos machos.
Se você for pra Mamirauá e observar botos com marcas no dorso, como letras e números, saiba que são animais que foram capturados pelo projeto da Vera e devolvidos à água. Nessa captura os pesquisadores tiram sangue, pedaços de tecido, pesam e medem o indivíduo, entre outras coisas. A marcação é para a observação diária de estagiários juntamente com o Edinho. Observando os botos diariamente é possível saber quais indivíduos vivem por aquela região, quem é filho de quem, etc. São mais de 15 anos de trabalho.
A primeira e quarta fotos são no lago Mamirauá; a segunda e terceira na entrada da RDS Mamirauá, no rio Japurá e a última em Novo Airão/AM, rio Negro.
Fontes:
A principal, como já disse, foram as conversas e palestras da Vera, Deise e Glória.
Martin, A.R., Da Silva, V.M.F. Number, seasonal movements, and residency characteristics of river dolphins in an Amazonian floodplain lake system. Can. J. Zool. 82: 1307–1315 (2004)
www.iucnredlist.org
Bom dia Pedro, tio da Bel!
ResponderExcluirQuem fala é o 1º ano A, o grupo da sua sobrinha. Gostamos muito do seu blog e das fotos dos bichos.
Apoiamos o seu trabalho!
A foto preferida da Bel é a dos três botos com a cabeça para fora d'água.
Beijos e abraços do 1º ano A.
Bel, Jorge, Duda, Lara, José, Laura, Antonio, Tito, Pietro, Pietra, Manuela, Daniel, Marina, Giovanna, Matheus, Gabriel, Lygia, Marina E Carol
Eba, valeu pelo incentivo! Que bom que vocês gostam de ver os bichos e aprender um pouco mais sobre eles!
ResponderExcluirUm beijo pra todos e pra minha querida sobrinha Bel!